Segundo uma matéria da SOPESP, de 08/05/2020, com fonte na Valor Econômico, se antes havia a impressão de que o home office era o sonho do todo jovem brasileiro, o confinamento forçado durante a pandemia está fazendo a maior parte deles mudar de ideia.
Em levantamento feito com 2 mil profissionais, de diversos estados e gerações, 73% dos trabalhadores, que entraram recentemente no mercado, disseram que prefeririam não trabalhar tempo integral em casa após a covid-19. O que está de acordo com a vontade de 43% dos demais participantes da pesquisa.
Para os mais novos, o fato de estarem trancados, sem a liberdade de ir e vir, muitos ainda vivendo na casa dos pais, incomoda muito durante pandemia. Assim como o fato de terem que usar seus equipamentos de tecnologia, aplicativos e programas de uso pessoal para o trabalho. Na pesquisa realizada pela consultoria Consumoteca, 53% deles disseram ter usado usado pela primeira vez suas ferramentas pessoais para trabalhar. “O trabalho entrou dentro de casa, invadiu um espaço deles sem que o patrão pagasse a conta de luz”, diz o antropólogo Michel Alcoforado, sócio da consultoria. Esse contexto criou um ruído na relação dos jovens com o home office, segundo ele.
A falta de interação social não está tão intensa e não é o que mais o brasileiro sente falta, segundo Alcoforado. “Nunca se fez tantos calls e reuniões de trabalho, mesmo que virtuais. O que as pessoas sentem falta é do contexto da ação de trabalhar”, diz. Se antes o home office era visto como benefício negociado e para poucos, como ele está configurado hoje, faz muita gente ter saudade do escritório, pelo menos por alguns dias da semana.
A pesquisa mostra que, no geral, este é um momento de descobertas profissionais para todas as gerações. Muitos profissionais na faixa a partir dos 40 anos, por exemplo, estão tendo que aprender a lidar com novas ferramentas digitais. No levantamento, 48% disseram ter participado pela primeira vez de uma videochamada de trabalho durante a pandemia.
Entre os profissionais, na faixa dos 30 e poucos anos, 28% disseram ter usado uma nova ferramenta de comunicação com a equipe pela primeira vez na covid-19. “Mais que baixar novos aplicativos, eles tiveram que aprender a lidar com as reuniões remotas e torná-las mais efetivas. O meio e a mensagem, de repente mudaram”, diz Alcoforado.
A maior habilidade dos jovens para lidar com os meios digitais, que em um primeiro momento pareceu ser a maior vantagem competitiva diante das demais gerações durante a pandemia, segundo a pesquisa, está sendo contrabalanceada pela maturidade emocional dos mais velhos. Na hora de conciliar diversas esferas da vida sob o mesmo teto, esse equilíbrio, segundo a pesquisa, faz diferença.
Embora o medo do que virá pela frente e o que será feito de seus empregos aflija mais os profissionais experientes e com cargos gerenciais. “As promoções foram adiadas, eles não vão se tornar chefes e viram seus planos esfacelados”, afirma o antropólogo. A questão financeira está tirando o sono de quem paga escola para os filhos, têm prestações de viagens da família e outros compromissos.
“Essa crise mudou a rota no meio da maratona”, diz Alcoforado. Mas não dá para dizer que tudo era melhor antes. “Estávamos estressados, o burnout estava crescendo, as pessoas estavam com medo de não conseguirem se reinventar, disso ninguém vai ter saudade.”
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