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  • Foto do escritorJulia Isaac

O paradoxo do Navio de Teseu


Imagine que você tenha um barco inteiro de madeira.

Aí você vai lá e troca uma das tábuas por outra, de alumínio. O barco ainda é o mesmo, só que agora, tem um pedaço de alumínio.

Agora vamos supor que você tenha gostado da ideia e vá substituindo toda a madeira por alumínio, parte por parte. Troca o convés, troca os mastros, troca o timão, troca o leme, etc.

Ao final dessa reforma você terá um barco de alumínio e não mais um de madeira. Ou seja, você terá outro barco. Mas quando foi que o barco de madeira deixou de ser o de madeira e virou o de alumínio? Foi na última peça que você trocou? Ou foi na primeira? Ou talvez, logo depois que você passou da metade?


Vamos além no raciocínio.

Imagine agora que alguém estava passando por ali e viu todas aquelas peças de madeira que você jogou fora e teve uma ideia: “oba, vou montar um barco de madeira!”

Xiii, e agora? Qual é o seu barco? São os dois? Sim, você jogou as madeiras fora, mas agora elas voltaram a formar um barco, igualzinho aquele original.

E você, que é o capitão, e jurou afundar com seu barco se fosse preciso, vai cumprir sua promessa se o sujeito que recolheu o seu lixo e montou um barco, afundar a embarcação dele?


De onde vem essa provocação toda?

Esse é o “Paradoxo do Navio de Teseu”, proposto pelo filósofo Plutarco.

Vamos aos fatos:


1) Eu sou o mito

Fruto de uma relação dupla de Edra com Egeu (rei de Atenas) e Poseidon (deus dos mares), Teseu foi importante na mitologia grega. Sua façanha mais conhecida foi derrotar o Minotauro no labirinto de Creta, que se alimentava anualmente de sete rapazes e sete moças atenienses, como parte de um tributo imposto pelo rei de Creta.

2) Barca furada

Vidas Paralelas, do pensador grego Plutarco, propõe o seguinte: Teseu parte de navio do ponto A para o ponto B. Mas, ao longo de uma viagem de 50 anos, vai substituindo cada peça do barco conforme se desgasta, até que todas tenham sido trocadas. Eis o paradoxo: dá para dizer que o navio que chegou em B é o mesmo que saiu de A? Ou já é outro?


3) O espírito da coisa

Muitos filósofos tentaram solucionar o enigma. Heráclito comparou o navio e suas peças a um rio: suas águas são constantemente renovadas, mas ele é sempre o mesmo. Aristóteles estabeleceu que uma coisa é definida por quatro causas: a formal, a material, a final e a eficiente. Em sua análise, entre os pontos A e B, o navio só mudava sua causa material, então ainda era o mesmo.


4) Queimando os neurônios

Filósofos modernos também palpitaram. Gottfried Leibniz concluiu que não, usando a lógica de que “X é o mesmo que Y se, e apenas se, X e Y têm as mesmas propriedades e relações e tudo que for verdade para X também é para Y”. Já Thomas Hobbes jogou lenha na fogueira: se um segundo barco for montado com as peças jogadas fora, qual dos dois será considerado o navio de Teseu?


5) Dúvida eterna

O paradoxo também ganhou novas versões. O filósofo John Locke pensou em uma meia furada: se o buraco for remendado, ela continuaria sendo a mesma meia? Se um dia o teletransporte for possível e alguém for “desmontado” molecularmente no ponto A e remontado no ponto B… vai ser a mesma pessoa? Será que terá as mesmas memórias e a mesma personalidade?


E VOCÊ? MESMA COISA QUE O BARCO?

Agora imagine você há 7 anos. Nesse periodo, todas as suas células foram substituídas (dizem) lentamente por outras novas.

Hoje não existe mais nenhuma célula daquelas que formavam seu corpo, 7 anos atrás.

Você é o mesmo? Se não tem mais nada do você de 7 anos atrás, você não virou outro? E como as suas memórias não sumiram? Onde elas ficavam guardadas que não sumiram junto com as células?


Pronto, pode ir para o resto do seu dia pensando nisso.




Fonte: Super Interessante e Medium.

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